Preço histórico do cacau: qual o impacto na precificação

Condições climáticas atípicas impulsionam a trajetória crescente dos preços do cacau
A imagem mostra de perto uma pilha de frutos de cacau, colhidos e expostos em uma mesa

As cotações do cacau atingiram máximos históricos esta quarta-feira e deverão impulsionar o preço do chocolate na época de mais alta procura deste alimento. Desde janeiro do ano passado, os preços de referência do cacau em Nova Iorque já dispararam 129%, e 35% desde o início deste ano. Neste ritmo, podem chegar aos dez mil dólares daqui a seis anos.

No entanto, não é a celebração anual que vai fazer aumentar o preço do chocolate, mas sim o fenômeno El Niño, que causa um clima mais seco no Gana e Costa do Marfim, dois dos maiores produtores mundiais de cacau do mundo. 

Na região africana, onde se encontram os maiores produtores de cacau do mundo, as chuvas têm contribuído para a propagação de doenças nas plantações e atrasos nas colheitas. Esses fatores combinados apontam para uma oferta global de cacau abaixo da demanda pelo terceiro ano consecutivo. 

A liderança do Ghana Cocoa Board (COCOBOD) disse que mais de 500 mil hectares de explorações de cacau no Gana foram perdidos devido à doença viral dos brotos inchados do cacau e que isto representava uma grande ameaça à produção do país.

Federico Meschinni, Gerente de Planejamento da Arcor do Brasil, comenta o impacto na precificação dos produtos da indústria. “Apesar de não sermos surpreendidos por essas variações, os níveis atuais estão excepcionalmente altos. Já havíamos adotado estratégias de cobertura para mitigar parte do impacto financeiro que já se visualizava instável no final de 2023. Com a aproximação da Semana Santa, um momento crucial para o setor, foi necessário ajustar nossos preços de forma moderada, visando preservar a saúde financeira da empresa sem onerar demais os clientes.”

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Cenário acende alerta de longo prazo

Os preços do cacau continuam em ascensão, atingindo o dobro do valor registrado no último ano, o que gera preocupações para as empresas do setor de chocolates. Ainda assim, uma análise da plataforma XTB aponta, que este fator não constitui um problema. O problema surgirá, no entanto, “se a oferta não se ajustar à procura”, sendo que o preço do cacau pode quase duplicar em 2030 e atingir os dez mil dólares por tonelada.

Para o CFO da Arcor, Santiago Peralta, o setor brasileiro enfrenta desafios adicionais devido à falta de coberturas de longo prazo, o que acarreta uma volatilidade direta nos preços ao consumidor. “O mercado, por sua vez, busca um equilíbrio entre vendas e rentabilidade neste período o que não deixa muito clara qual será a posição final da indústria toda”, pontua.

Claudenmir Zafalon, colunista do porta Mercado Cacau, declarou: “pode ter as características de um mercado que está passando por um rali explosivo, mas não há nenhum indicador de topo, e nem solução para a oferta extremamente restrita, que pode levar muito tempo para ser resolvida.”

A possibilidade de escassez de suprimentos levanta a perspectiva de aumentos nos valores de chocolates e doces, impactando diretamente gigantes do mercado, como a Hersheys. 

No último trimestre, a Hersheys, renomada empresa no ramo chocolateiro, enfrentou uma redução de 6,6% em seu rendimento nas vendas. Esse declínio é atribuído, em parte, à elevação dos custos dos insumos de cacau. 

Cadbury e Mondelez também relataram lucros mais baixos. No entanto, os elevados preços do cacau ainda não chegaram ao nível do consumidor.

“Esta Semana Santa será um período de desafios e oportunidades. Como participantes deste mercado, precisamos adaptar nossas estratégias de precificação e gestão de custos, mantendo o foco na qualidade e satisfação do cliente”, complementa Santiago Peralta.

Diversificação na escolha dos consumidores traz oportunidades de precificação

O aumento consecutivo nos preços do chocolate é uma realidade recorrente. Com a disparada do preço do chocolate, consumidores podem buscar opções mais baratas.

Um levantamento do Procon-SP feito em sites de varejo no ano passado mostrou que, na comparação dos produtos comuns entre as pesquisas online de 2023 e 2022, constatou-se que houve, em média, acréscimo no preço médio dos bombons de 14,04%, nos ovos de páscoa de 37,77% e nos tabletes de chocolate de 4,37%. Para referência, o Índice de Preços ao Consumidor – IPC-SP da FIPE, referente ao período de março de 2022 a fevereiro de 2023, registrou variação de 6,71%.

Na hora de precificar, as empresas podem prestar atenção especial aos históricos de preço e volume de produtos adquiridos na época de páscoa, e entender quais são as substituições feitas pelos consumidores.

Por meio dos cálculos de elasticidade, é viável compreender quais produtos têm mais valor aos olhos da clientela na páscoa podem ser alterados, acompanhando suas variações de demanda e margem de preço.

A mesma pesquisa encontrou diferenças significativas entre os preços dos produtos da Páscoa, com diferenças de até 320,46% entre os preços dos ovos de Páscoa e 116,31% entre os tabletes; entre os bombons as diferenças chegaram a 65,54%.

Tributação brasileira também pesa na precificacão do cacau

Os tradicionais ovos de chocolate de Páscoa carregam aproximadamente 40% de tributos na composição de seu preço final.

O valor é composto por diferentes taxas, impostos e contribuições. Se um ovo de chocolate custa R$ 100,00, por exemplo, cerca de R$ 40,00 vão para impostos.

O advogado tributarista Samir Nemer fez um levantamento que mostra que outros produtos também comercializados nesta época do ano apresentam uma carga tributária elevada que, em alguns casos, corresponde a mais da metade do valor pago pelo consumidor.

O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e o imposto sobre importação são os que mais pesam no valor desses itens.

“No caso do ovo de Páscoa o Pis corresponde a 1,65%, o Cofins 7,60%, ICMS 18% e o IPI 5%. Além disso, 6,28% são referentes a taxas e alvarás de funcionamento. O que dá um total de 38,53%”, explica Samir.

O sistema de precificação da Aprix tem ferramentas adaptadas para lidar com a complexidade tributária brasileira. No módulo Gestão de Lista de Preços, é possível consolidar automaticamente as regras de tributação de cada produto e região.
Júlia Provenzi
Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.
Júlia Provenzi
Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.

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