Chuvas no RS: o que esperar dos preços após a catástrofe climática

Enchentes e volumes anormais de precipitação comprometem a produção e a logística do estado

Desde o início de maio, o estado do Rio Grande do Sul (RS) enfrenta uma das piores enchentes de sua história. As chuvas intensas resultaram em inundações que desabrigaram milhares de pessoas e causaram danos significativos à infraestrutura, incluindo bloqueios em estradas e a queda de pontes. Além das perdas humanas e materiais, a tragédia climática traz repercussões econômicas graves, particularmente no setor de logística e nos preços das mercadorias.

Desafios logísticos

As fortes chuvas causaram alagamentos em várias partes do estado, tornando algumas rodovias intransitáveis e interrompendo o transporte de mercadorias. Trechos importantes de estradas, como a BR-386 e a BR-290, foram severamente danificados, prejudicando o fluxo de caminhões que abastecem tanto a capital quanto o interior do estado. Além disso, várias pontes colapsaram sob a força das águas, exacerbando os problemas logísticos. O impacto estimado pelo governo para a reconstrução da infraestrutura é de R$ 19 bilhões iniciais.

A interrupção na logística impacta diretamente o abastecimento de mercadorias, levando a um aumento nos preços. Produtos perecíveis, como alimentos frescos, estão entre os mais afetados. A dificuldade em transportar esses itens dentro do prazo adequado pode resultar em escassez, forçando os preços a subir.

Além dos alimentos, outros bens de consumo também devem registrar aumentos. Produtos industrializados que dependem de matérias-primas transportadas pelas áreas afetadas pela enchente podem ter seus custos elevados, refletindo-se no preço final para o consumidor.

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Produtos Atingidos

De acordo com economistas, os consumidores devem se preparar para pagar mais caro por alimentos essenciais como arroz, feijão, carne e leite. Entre os produtos que devem ter os preços afetados estão, de acordo com a Fecomercio, os derivados de leite e o arroz. “O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país, e embora pouco mais de 80% da safra tenha sido colhida, ainda não dá para saber se os estoques foram atingidos ou quanto da parcela restante foi perdida”, diz a nota da federação.

O estado é responsável por 70% da produção nacional de arroz, um item de grande peso no subitem “alimentação no domicílio” do índice de inflação ao consumidor IPCA. O Rio Grande do Sul também é um produtor significativo de carnes e laticínios.

Uma fonte do IBGE, responsável pela apuração do índice, destacou ao InfoMoney que, embora grande parte da safra de arroz já tenha sido colhida, há preocupação com a logística de escoamento, já que estradas e pontes foram severamente danificadas pelas chuvas, isolando várias regiões. “A parte que estiver armazenada nas áreas isoladas pode afetar a inflação”, afirmou a fonte.

Até o momento, o monitoramento realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP, mostra um leve aumento no preço do arroz no estado, de acordo com dados até a dia 06 de maio. Nesse dia, o valor da saca, incluindo frete, estava em 106,74 reais, comparado a 105,98 reais na segunda-feira anterior, 29 de abril.

Congelamento de preços evita aumentos imediatos

Com 90 lojas no Rio Grande do Sul, Estado que passa por alagamentos e inundações, por conta das fortes das chuvas, o Carrefour Brasil anunciou que vai congelar os preços de todos os seus produtos, até o final de maio. “Dá para congelar os preços por um mês sem atrapalhar muito o nosso resultado global. É óbvio que temos que cuidar das nossas atividades por lá, mas a prioridade, agora, é ajudar a população”, disse Stéphane Maquaire, CEO da empresa.

Guilherme Zuanazzi, CEO da Aprix e especialista em precificação, pontua que o custo do impacto econômico será elevado. “Essas empresas vão absorver, nesse momento, o custo do aumento de insumos, por exemplo. Mas é importante entender que essa dinâmica de preço não vai se manter assim. Em algum momento, esse custo de logística vai subir e impactar os preços”, declara.

Outras iniciativas adotadas por empresas locais, como redes farmacêuticas, é o de desconto em medicamentos e itens para doação. Para Zuanazzi, medidas como essa são importantes, mas insustentáveis a longo prazo. “Temos visto muitas empresas que fornecem produtos importantes em momentos como esse reduzindo preços para facilitar a ajuda. Mas isso é limitado, pois elas não conseguem operar toda a sua demanda a esse preço subsidiado. Elas precisam, também, continuar vendendo a um preço que dê margem e saúde financeira.”

“Esse custo vai chegar aos preços. Talvez não neste mês, mas certamente nas próximas semanas, porque houve um grande choque na economia do estado, que tem impactos na economia nacional”, pontua Zuanazzi.

Expectativas a partir de agora

Especialistas indicam que a recuperação total das áreas afetadas pode levar meses, senão anos. A reconstrução de pontes e estradas é um processo complexo que demanda tempo e recursos significativos. Enquanto isso, a população deve se preparar para um período de ajustes econômicos e dificuldades no abastecimento.

É possível prever os reajustes com a IA?

Modelos de inteligência artificial são eficientes para prever dados com base em condições semelhantes verificadas no passado. No entanto, diante de acontecimentos extremos, imprevisíveis e incomuns, o modelo as trata como uma discrepância.

No caso das previsões de preços, o CPO da Aprix, Frederico Maciel, explica: “Depende muito de para que estamos treinando a IA, do objetivo daquele modelo. Então isso pode ser muito ruim em casos extremos, porque normalmente minimizamos o erro médio de uma previsão. Nunca haverá um modelo que diga que amanhã você vai vender três vezes mais, porque é um caso atípico”.

Medidas de mitigação

O governo do estado, em conjunto com a Defesa Civil, está trabalhando para restabelecer a infraestrutura viária e fornecer apoio aos desabrigados. Pontes temporárias estão sendo instaladas e rotas alternativas estão sendo exploradas para minimizar os impactos no abastecimento.

A solidariedade da população também tem sido fundamental, com doações de alimentos e suprimentos essenciais sendo organizadas por diversas entidades e empresas. No entanto, a situação ainda é crítica e requer um esforço contínuo de todos os setores da sociedade.

Como ajudar o RS

A Aprix indica o auxílio a entidades que usem recursos de forma eficiente no apoio às vítimas das enchentes

  • ONG Misturaí: organização sem fins lucrativos que apoia a comunidade local em várias frentes, como o preparo de refeições e campanhas de arrecadação;
  • Operação De Volta Para Casa RS: Projeto que visa a destinação direta e eficiente de recursos para as famílias afetadas pela enchente para auxiliar na reconstrução de seus lares.

As enchentes no Rio Grande do Sul não apenas representam uma catástrofe humanitária, mas também desencadeiam uma série de desafios econômicos. A interrupção na logística eleva os preços das mercadorias, impactando diretamente o bolso dos consumidores. A recuperação exigirá um esforço coordenado entre governo, setor privado e a comunidade para restaurar a normalidade e assegurar a estabilidade econômica no estado.

A Aprix acredita que todo projeto deve levar em conta suas implicações ecológicas, afinal a natureza é uma fonte interminável de eficiência e temos muito o que aprender com ela. Conheça o Nosso Manifesto.
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Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.
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Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.

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