Luma Boaventura Favarini, co-fundadora da AI Robots, explica a robótica humanizada

Empresária e palestrante do South Summit Brazil compartilha visões sobre tecnologia e liderança

Tecnologias como a robótica, a inteligência artificial e internet das coisas — ou, mais recentemente, metaverso e NFTs — costumam ser apontadas como ferramentas capazes de mudar a forma com executamos tarefas e nos relacionamos com o ambiente e as pessoas no nosso entorno. O potencial é aparentemente inesgotável, e, em muitos casos, desconhecido.

Luma Boaventura Favarini apaixonou-se pela inovação tecnológica desde quando viu um familiar ser curado de um problema de saúde a partir dela. Com isso, saiu da carreira que estáva construindo no direito e, em 2019, fundou a AI Robots, que se define como que se define como uma empresa centrada no ser humano focada em viabilizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com inteligência artificial, robótica e tecnologias emergentes.

Por isso, encoraja que as pessoas não tenham medo da tecnologia, representada como algo maligno em narrativas distópicas. “Que continuemos sendo cada vez mais humanos. Que não tenhamos medo da tecnologia e a usemos para o bem”, deseja.

Durante o South Summit, a empresária e palestrante concedeu uma entrevista exclusiva ao Aprix Journal. Leia a seguir.

Aprix Journal — Você fala sobre o conceito de “robótica humanizada”. Poderia explicar o que é isso e de que forma a AI Robots contribui para esse cenário?

Luma Boaventura Favarini — A robótica humanizada é um conceito diferente. Muitas pessoas ainda têm medo do robô, entendem o robô como uma máquina que vem substituir o humano. O conceito da sociedade 5.0, criado pela japonesa Yoko junto ao Fórum Econômico Mundial, traz o robô para servir humano. Nós defendemos o mesmo ponto. Mesmo no chão de fábrica, defendemos que a robótica venha para servir os seres humanos na operação do dia a dia. O robô colaborativo tem esse nome por isso, ele vem para colaborar com o humano, que não precisa mais estar enclausurado no chão de fábrica. Eu posso estar perto de um robô e, ao encostar nele, ele para. Ele respeita o espaço do humano, não machuca o humano, não tem risco de atropelar ninguém, porque ele é feito para ser colaborativo. Então, a robótica humanizada vai crescer muito, com certeza.

Aprix Journal — Qual é o potencial da robótica para a indústria brasileira?

Luma Boaventura Favarini — Para a indústria brasileira o potencial da robótica é gigantesco. Vemos segmentos como automotivo eletrônico já muito robotizados. Mas diversos outros segmentos, como alimentício, bebidas, celulose, farmacêutico, que ainda aqui no Brasil estão se robotizando, até por exigências de mercado. No segmento farmacêutico próprio FDA (US Food and Drug Administration), que é a entidade que regulamenta a produção de medicamentos, exige alguns tipos de robotização ou automação para reduzir a carga microbiana na produção de medicamentos. Outros segmentos, como o alimentício, por segurança sanitária e também para otimizar o processo. Então tem muito mercado para crescer. Lá fora, países como Estados Unidos e China já estão muito robotizados, e as profissões do futuro já chegaram a todo vapor. Isso vai chegar, e está chegando, no Brasil de forma muito acelerada, também com a pandemia.

Luma Favarini (a segunda, da direita para a esquerda) durante painel no South Summit Brazil. Foto: Mulheres de Performance/Twitter

Aprix Journal — De que forma isso pode contribuir para o desenvolvimento sustentável das empresas?

Luma Boaventura Favarini — Para o desenvolvimento sustentável das empresas a robotização vem junto com a inteligência artificial como tecnologias habilitadoras muito fortes. Até pensando nas metas de desenvolvimento sustentável da ONU, que envolvem aspectos desde a economia. circular. Ao separar em uma linha de produção plástico, papel e outros componentes para reaproveitar, isso é um trabalho muito moroso, muito repetitivo e exaustivo para o ser humano. Então, se você coloca um robô com uma câmera de visão e ele faz esse processo sozinho, otimiza muito tempo para o ser humano ficar em outra atribuição que ele possa exercitar mais sua capacidade intelectual e não operacional. Fora isso, outros fatores ligados a ergonomia e outros pontos sociais, de inclusão. Quem alguma deficiência motora ou visual pode usar dispositivos robóticos para facilitar o seu processo na empresa, o seu trabalho ou até o seu dia a dia na sua casa.

Aprix Journal — Durante o painel “xxx” no South Summit, você enfatizou que uma das principais competências para lideranças é a empatia. Poderia comentar sobre isso?

Luma Boaventura Favarini — As pessoas confundiam muito, antigamente, que líder tinha que ser alguém autoritário, rude, que se impõe. Que é chefe Que cria aquele ambiente de trabalho em que todo mundo tem que respeitar as suas decisões e ponto final. Hoje em dia, não. Vimos que a que as empresas têm que ser de verdade horizontais, e temos que ser gentis. A liderança tem que ser servidora. Ser líder não é um papel de destaque à autoridade, é um papel de serviço. Então, em qualquer situação que nós estejamos, o que mais nos importa é a empatia, e ser gentil, porque não sabemos o que o outro passou. E para ter um time diverso, para trazer inovação para a mesa, temos que ter gentileza e empatia, senão é impossível gerenciar a diversidade. 

Aprix Journal — Enquanto alta liderança em um mercado que ainda é predominantemente masculino, como você o espaço para as mulheres no mercado de tecnologia?

Luma Boaventura Favarini — O espaço era muito pequeno. 8% são mulheres, hoje, como investidoras em fundos de acordo com relatórios aí da Harvard Bussiness Review. Mulheres founders também têm uma média muito baixa de ainda no mercado de tecnologia, mas que está crescendo. Não podemos mais reclamar que as mulheres não têm voz, nós temos voz, basta que nós a gente crenças limitantes. Às vezes nós mulheres somos criadas para sermos mais ou mais low profile, para não opinar muito, e isso mudou. A sociedade hoje respeita muito a voz das mulheres, então precisamos trazer à tona todas as nossas competências. Todos nós, homens, mulheres, de todas as diversidades, devemos nos capacitar. Então, não adianta pensar que só por ser mulher, vai conseguir posições. Então, ir atrás de ser lifelong learner, de aprender constantemente novas coisas, de ser um ótimo profissional do futuro, pois não vai faltar mercado para as mulheres e as empresas que perceberam que precisam de diversidade. E aí, mulheres, homens, pessoas de todas as diversidades sociais, de cultura, de etnia, de país, vão ter espaço em todas as empresas quando forem capacitadas. Dependendo de onde a pessoa vive, da vulnerabilidade social que ela presencia na sua história às vezes não tem as mesmas oportunidades do que outras pessoas. Então levar oportunidades para essas pessoas entrarem nessas posições é acho essencial.

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Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.
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Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.

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