Alexandre del Rey, presidente da I2AI, ressalta o potencial revolucionário da IA

Empreendedor, professor e palestrante, Alexandre explica o potencial da tecnologia para o futuro

Alexandre del Rey é CEO e cofundador da International Association of Artificial Intelligence — I2IA, associação global sem fins lucrativos criada no Brasil com o objetivo de fomentar o uso das tecnologias ligadas à Inteligência Artificial e propagar conhecimento sobre o tema. Alexandre também é empreendedor, professor e foi palestrante no South Summit Brazil 2022, evento global do ecossistema da inovação.

Otimista, Alexandre del Rey vislumbra o potencial revolucionário da Inteligência Artificial para mudar a forma como trabalhamos hoje, melhorar processos e gerar empregos. Durante o South Summit, o executivo concedeu uma entrevista exclusiva ao Aprix Journal. Leia a seguir.

Aprix Journal — Em sua palestra no South Summit, você falou sobre os quatro pilares da inteligência artificial. Poderia comentar quais são?

Alexandre del Rey — Tem inúmeras aplicações da IA no dia a dia, para todos os segmentos da indústrias. Os quatro pilares são como se gera valor através dela. A primeira forma é fazer mais com menos, ser mais produtivo. No mundo jurídico, onde tem algoritmos que conseguem revisar os detalhes de contratos de forma muito mais rápida, que os melhores advogados. A gente vê isso na área médica, também. Quando se fala de diagnóstico de imagem, a IA consegue detectar sinais de câncer, pneumonia e outras doenças com uma produtividade maior. A IA também consegue fazer cálculos complexos, caminhos logísticos, e uma série de coisas com mais agilidade.

Também tem o lado da velocidade. Além de ser produtivo, você consegue chegar antes. Eu dei um exemplo do banco Cora, que tem todo o processo digitalizado, usando várias tecnologias ligadas à inteligência artificial, desde a Robotic Process Automation (RPA) até visão computacional de coleta de documentos, que facilita todo o processo burocrático. Eu consegui abrir uma conta em dez minutos e aquilo foi vital para um negócio acontecer. A própria vacina da covid-19 foi desenvolvida com uma primeira parte usando muita inteligência artificial para escolher os melhores caminhos, ou seja, quais componentes seriam mais promissores para uma vacina eficaz.

O terceiro pilar é a qualidade, que significa encontrar respostas melhores, acertar mais. Um exemplo é um algoritmo usado em recursos humanos que dava feedback usando dados. E esse feedback, comparado com o dado pelos gestores humanos o feedback era mais completo, mais abrangente e gerava uma um resultado melhor. O Waze é outro algoritmo que usa IA, ele te recomenda o caminho mais adequado no trânsito. E o último é a personalização. Com a IA, você consegue fazer a personalização em massa.

Aprix Journal — Considerando esses pilares, como a IA pode transformar a forma como trabalhamos hoje?

Alexandre del Rey — A inteligência artificial faz cálculos complexos, que exigem, muitas variáveis, análises de combinações possíveis, automatização de atividades repetitivas… Tem uma série de coisas que as tecnologias ligadas à inteligência artificial podem fazer que permitem que as pessoas e as empresas possam se dedicar a outras coisas. Como o relacionamento humano, ter boas conversas com seus clientes e entender o que querem; a inovação, pensando em gerar novos modelos de negócio e como atuar de forma diferente; ampliar o trabalho colaborativo com com outras pessoas… Então, eu acho que o ponto maior da inteligência artificial é liberar tempo útil para o humano fazer o que ele faz de melhor. Estar presente, trazer insights, julgar, criar e desenvolver.

Hoje, os trabalhos humanos têm muita coisa que se perde na burocracia, em fazer análises complexas de muitos números que a gente acaba não sendo bons nisso. Não nascemos para fazer isso num nível de complexidade que nós vivemos hoje. Então eu acho que o melhor caminho, que é o caminho que eu acho que é revolucionário, (como foi com o computador e o celular) é usar essas tecnologias para liberar o potencial humano. Do ponto de vista ecológico, econômico, do ponto de vista social, tem muitos problemas que nós temos que resolver e a inteligência permite que as organizações liberem o potencial humano, que já existe, só que estamos ocupados fazendo coisas que não precisávamos fazer.

“O ponto maior da inteligência artificial é liberar tempo útil para o humano fazer o que ele faz de melhor”

Aprix Journal — Um dos temores com relação à Inteligência Artificial é o de que ela vá extinguir postos de trabalho. Como a IA pode contribuir, no sentido inverso, para gerar novos postos de trabalho?

Alexandre del Rey — Vou fazer um um paralelo para agricultura. Os agricultores (que em São Paulo são chamados de boias-frias) tinham um trabalho extremamente degradante para o ser humano, é um trabalho debaixo de sol, com muito esforço físico. Essas pessoas, com a mecanização da atividade no setor agrícola, deixaram de poder trabalhar nessa função e tiveram que se reinventar e encontrar outros caminhos. Agora, podemos questionar: esse é um trabalho que a gostaríamos que o humano fizesse?

Hoje, não está faltando emprego para quem conhece sobre a tecnologia de inteligência artificial. Não está faltando oportunidade para quem programa ou para quem trabalha na inovação e no desenvolvimento de projetos ligado a inteligência artificial. Então, tem um potencial enorme para as pessoas que estejam olhando e se preparando para atuar nesse novo mundo. Se você compartilha dessa visão de futuro, a melhor coisa que você, como profissional, pode fazer é se aprofundar sobre essas tecnologias, porque aí você deixa de pensar nos empregos ameaçados e se coloca em uma situação de ver um emprego procurado.

Alexandre Del Rey durante palestra no South Summit. Ele está sobre um palco, segurando um microfone e gesticulando,  com um letreiro da conferência ao fundo. À sua frente, várias pessoas aparecem, de costas, assistindo à palestraAlexandre del Rey durante palestra no South Summit Brazil 2022. Foto: Aprix Journal

Aprix Journal — Você defende que existe muito potencial inexplorado na IA. O que falta para que esse potencial seja destravado e a IA possa atingir mais setores da sociedade?

Alexandre del Rey — Nós podemos olhar para o mundo e para o Brasil. No Brasil, nós temos um problema tão importante que é difícil a gente entender porque que não existe mais foco nessa questão, que é a educação. As pessoas que não têm a acesso à educação acabam não tendo acesso e oportunidade para fazer escolhas melhores. Muitas vezes, elas têm o problema do hoje, dinheiro para hoje, e acabam não tendo tempo para se qualificar. Então, enquanto não resolvermos esse problema, vai ser algo difícil de resolver definitivamente. Mas eu vejo o lado bom: tem muitas iniciativas hoje do governo federal, dos governos estaduais, das empresas de gerar um sistema de capacitação. Tem iniciativas muito legais na própria I2AI. Nós fazemos muitos eventos gratuitos que permitem que as pessoas consigam se qualificar. E as tecnologias hoje, permitem, com algum acesso à internet, acessar os melhores conteúdos do Brasil e do mundo. Tanto que isso acaba criando a oportunidade de espalhar esse conhecimento Brasil afora e gerar uma resposta, uma mudança mais rápida. E, ao profissional que já tem a educação base, falta se interessar e ir a fundo nesses temas.

Aprix Journal — Como está o cenário do Brasil hoje, em comparação com o cenário internacional, com relação ao mercado de Inteligência Artificial

Alexandre del Rey — No Brasil, os líderes que estão utilizando inteligência artificial estão no mesmo nível dos líderes globais. O problema não é o a liderança, mas a linha média, já que estamos abaixo da média mundial. Então existe um potencial das empresas que ocupam o patamar intermediário de se aprofundar mais no tema e aplicar mais essa tecnologia para poder acompanhar o cenário mundial. E aí sim eu acho que o Brasil vai estar num bom nível e quem sabe poder almejar ir para um pouco acima da média. Nesse caso, temos um longo caminho. Nós temos bons exemplos no Brasil de empresas utilizando sistemas de inteligência artificial nos seus modelos de negócio e que estão sendo muito bem sucedidas. Agora, outras organizações podem se inspirar nesses exemplos para iniciar as suas jornadas.

Porque é um processo de transformação. A empresa tem que pensar quais são os projetos importantes para incorporar na organização, como ficar mais eficiente, como gerar resultado e, com esse resultado, investir em outros projetos e criar um círculo virtuoso, que é o que pode se fazer com essa tecnologia tão poderosa. Tem dinheiro na mesa aí, quando se tem um modelo de desenvolvimento tecnológico bem pensado, o céu é o limite para essas organizações.

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Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.
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Júlia Provenzi
Júlia Provenzi é jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Aprix, escreve sobre tendências no mundo dos negócios e inovação aliadas às áreas de pricing. Busca desmistificar o uso da IA e de tecnologias de ponta no contexto do Revenue Growth Management (RGM) em grandes companhias.

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